João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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                                                  SAPOS EM PRÍNCIPES


     A semântica é o estudo do significado de uma palavra, um signo, uma frase, uma expressão, em um determinado contexto. É aquele ramo da Lingüística que procura revelar o significado de uma comunicação, quando ela é expressa em linguagem, no contexto em que ela se insere.
     Exemplo: os defensores de Michel Temer afirmam que ele não praticou crime algum.  Apenas recebeu para uma conversa nada republicana, na calada da noite, um sujeito que era seu amigo de longa data (pois até lhe emprestava jatinhos para viajar nas férias), para conversar sobre amenidades. Isso não é crime.
     Exercício de semântica mais interessante do que esse só mesmo o de Don Corleone, o inefável personagem mafioso do escritor Mário Puzzo, que mandava matar os inimigos por razões comerciais e não pessoais. “É apenas negócio”, dizia ele, enquanto seus capangas descarregavam cadáveres na porta da funerária de um de seus protegidos.
      Paulo de Barros Carvalho, com quem tive o prazer de estudar Direito Tributário é um dos pioneiros no estudo da semântica aplicada ao Direito. Num prefácio que  escreveu para a edição brasileira de um livro de Bandler e Grinder, os  criadores da PNL (Programação Neurolinguística), ele diz que o segredo de transformar um sapo em príncipe é o desejo do sapo em ser príncipe. “O sentir-se um sapo funda-se no desejo de ser príncipe, no desejo de ser amado. Pode talvez representar a aquisição de um direito. Ou, quem sabe, redimir a culpa de um desejo empostado em que se passou a acreditar”, escreveu ele.
      Políticos corruptos e seus advogados sabem muito bem como aplicar essa técnica. Transformar sapos em príncipes é com eles mesmos. Nem os melhores praticantes de PNL conseguem resultados melhores na arte de mistificar a realidade quanto um bom advogado na tribuna ou um político matreiro no palanque. Em sã consciência ninguém pode crer que o presidente Temer tenha recebido o seu “amigo” na calada da noite para conversar sobre amenidades, e que depois seu principal assessor tenha sido flagrado recebendo uma mala com 500.000 reais por mera coincidência. Advogados não precisam acreditar que seus clientes são inocentes. Precisam saber costurar uma história lógica para justificar o que eles fizeram. E políticos não precisam dizer a verdade. Só precisam saber mentir bem.
      Isso é teológico. O Diabo não existe. Ele é só o lado oposto de Deus.  A semântica é uma coisa engraçada e até bonita quando é empregada na criação literária. Mas precisamos ter cuidado quando é utilizada com o claro propósito de transformar sapos em príncipes.
      Na lógica do mundo real um sapo não vira príncipe só porque ele mesmo acredita nisso. Nem porque há pessoas querendo fazer com que as pessoas acreditem. No mundo real usar dinheiro público para se manter no poder, como Temer está fazendo, é o que é: – um crime − e não uma mera questão semântica, como os defensores dele querem nos fazer crer.  
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 14/07/2017


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